terça-feira, 13 de maio de 2014

Entrevista

Segundo Fernando Haddad, a formação docente é prioridade para o Ministério

Para o ministro da Educação, é essencial que as universidades públicas preparem mais e melhores professores para o Ensino Fundamental             

Fernando Haddad, Ministro da Educação. Foto: Herminio Oliveira
Fernando Haddad, Ministro da Educação

"Dar aula não é nada simples. Talvez seja a atividade mais sofisticada que a espécie humana já concebeu." A afirmação, do ministro Fernando Haddad, justifica a ênfase que o Ministério da Educação (MEC) está dando à formação de professores do Ensino Fundamental. Dos 10 bilhões de reais a mais que o MEC terá no orçamento de 2009 (na comparação com o deste ano), essa será uma área de destaque em investimento. E os cursos de Pedagogia e o Normal Superior foram considerados - ao lado dos de Medicina e Direito - prioritários numa lista de avaliações nacionais de faculdades e universidades.
Aprimorar a formação docente é uma missão complexa. Como se pode ver na pesquisa que norteia a reportagem de capa desta edição, o curso de Pedagogia está muito distante das necessidades de quem leciona. Para aproximar o currículo do "chão da escola", deve ser criado, agora, em outubro, o Sistema Nacional de Formação do Magistério. A iniciativa prevê uma articulação entre os dirigentes municipais e estaduais e as instituições de Ensino Superior para que elas diplomem cerca de 70 mil educadores por ano. Sobre o tema, tão importante para o futuro de nossa Educação, o ministro concedeu a seguinte entrevista a NOVA ESCOLA.

A pesquisa que inspira a reportagem de capa desta edição mostra que o curso de Pedagogia não é focado nas práticas de ensino e nos conteúdos que devem ser ensinados às crianças. Por que chegamos a essa situação?
FERNANDO HADDAD É preciso lembrar como surgiu esse imbróglio sobre a formação dos professores de Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Até algumas décadas atrás, havia apenas o Magistério de nível Médio. Com a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), de 1996, houve a tentativa de definir a obrigatoriedade de ter um diploma de Ensino Superior para lecionar. Mas isso só foi resolvido em 2003, pelo Conselho Nacional de Educação. Esse período de indefinição provocou o esvaziamento do Magistério de nível Médio e, ao mesmo tempo, os Institutos Superiores de Educação não ocuparam esse espaço. Por sua vez, a Pedagogia continuou sendo um curso genérico, sem dar ênfase às práticas de sala de aula.

Como mudar esse cenário?
HADDAD Justamente porque o curso de Pedagogia não está preparado para formar professores, esse é o desafio do Sistema Nacional de Formação do Magistério, que pretendemos lançar ainda este mês, se possível no dia 15, Dia do Professor. Queremos que as universidades públicas, sejam elas federais, estaduais ou municipais, se comprometam com a formação dos professores da rede pública. É preciso também que as faculdades adaptem os currículos dos cursos de Pedagogia à realidade da sala de aula.

Quem será responsável pela implantação desse projeto? HADDAD A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, organismo ligado ao MEC). Nos últimos anos, ela se especializou em avaliar cursos de pós-graduação e capacitar docentes que atuam nas próprias universidades, mas a idéia é fazê-la retomar sua missão original, de formar pessoal (em nível superior) para atuar em todas as etapas, a partir da Educação Infantil. Para isso, o Ministério praticamente dobrou o orçamento da Capes, que passou a ter 1 bilhão de reais só para esse fim.

As universidades têm autonomia para organizar seus cursos. Como a Capes poderá convencê-las a modificar os currículos? HADDAD Da mesma forma como faz hoje: por indução, apontando caminhos e boas práticas. A Capes está preparada para atender à expansão das universidades federais e dos institutos federais de Educação, Ciência e Tecnologia, cuja ênfase são as licenciaturas. Por lei, cabe a ela pagar bolsas de estudo a participantes de programas de formação inicial e continuada de docentes da Educação Básica. Além disso, o Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes, que avalia as licenciaturas) também funciona como indutor. Se estamos avaliando a aprendizagem das crianças e dos jovens, por meio da Prova Brasil, temos de avaliar a capacidade dos professores de ensinar o que interessa para a escola. Os graduados em Pedagogia e nas licenciaturas estão preparados para lecionar? Se as perguntas forem bem elaboradas, o Enade pode nos ajudar a responder. Até agora, a temática específica - ligada à didática e à relação ensino/aprendizagem - não era o foco, mas as provas serão reformuladas.

Que outros objetivos tem o Sistema Nacional de Formação?
HADDAD Uma das diretrizes é estabelecer nexo entre as várias ações do MEC voltadas para a Educação Básica. Hoje ninguém é capaz de responder se existe compatibilidade entre os programas de formação inicial, as diretrizes das licenciaturas, a compra de livros didáticos, a Prova Brasil e o Enade. Nossa meta é alinhar o que está sendo ensinado e o que está sendo avaliado.

Isso levará à criação de um currículo fechado para a Educação Básica?
HADDAD A Prova Brasil - por ser feita por escola, atribuir um conceito na escala do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e estabelecer metas - já está, indiretamente, começando a destacar pontos do currículo. As escolas sabem os conteúdos de Língua Portuguesa e Matemática que são avaliados na Prova Brasil e, se quiserem fazer os alunos avançar, vão acabar se apropriando das didáticas e se pautando por essas expectativas de aprendizagem. Eu acredito nesse modelo porque muitos estudos internacionais mostram que fazer essa avaliação por escola impacta positivamente o desempenho dos estudantes - e essa melhora é observável a curto prazo. A médio e longo prazos, o que precisamos é aumentar a expectativa, elevar o teto. Investir na qualidade dos cursos superiores exige tempo. O que não podemos é ficar parados, esperando para resolver tudo no futuro. É preciso avançar no que é possível com a atual graduação.

O que é preciso alterar no currículo dos cursos de formação?
HADDAD No caso da Pedagogia, a questão é contrabalançar melhor o espaço que ocupam disciplinas clássicas - como Sociologia, Filosofia, Psicologia e História da Educação - com as ligadas à didática. O fato é que é preciso incluir as competências básicas sobre o dia-a-dia da sala de aula, que sempre foram uma característica do curso Normal.

Qual é o peso da formação docente para a qualidade do ensino?
HADDAD Aqui, no MEC, trabalhamos simultaneamente no atendimento de três eixos (Educação Básica, Profissional e Superior) e quatro temáticas (avaliação, gestão, financiamento e formação). E eu não tenho dúvida de que a formação é, de longe, a temática mais importante. Se ela não for trabalhada, de nada adiantam recursos, boa gestão e avaliações periódicas. Só com bons professores, vamos fazer a diferença e garantir um ensino de qualidade em nosso país.

Que outras ações podem ser implementadas com esse fim?
HADDAD Pretendemos criar em cada estado um Fórum de Apoio à Formação do Magistério, constituído pelo secretário estadual de Educação, por representantes dos secretários municipais e pela seccional da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, mais um delegado do MEC e profissionais das instituições públicas de ensino que oferecem cursos de Pedagogia e licenciaturas. Esse fórum terá como objetivo elaborar um planejamento estratégico com metas quantitativas e qualitativas.

Quais seriam essas metas?
HADDAD As quantitativas dizem respeito ao aumento do porcentual de professores da escola pública formados pelas universidades públicas. As qualitativas têm a ver justamente com a adequação do currículo do curso de Pedagogia às necessidades da escola. Se os dirigentes estaduais e municipais estiverem lado a lado com as instituições de ensino, trazendo suas demandas e dificuldades, e se conseguirmos organizar programas de formação continuada e alterar a inicial para atender às demandas das redes, vamos iniciar um processo no Brasil em que a União assume, via Capes, um protagonismo que nunca teve.

Isso já deveria ter ocorrido?
HADDAD Sem dúvida. Na minha opinião, um defeito da LDB foi ter colocado preferencialmente sobre estados e municípios a responsabilidade pela formação do Magistério - e apenas supletivamente sobre a União. Não se trata de impedir estados e municípios de oferecer cursos desse tipo. Ao contrário. Contamos com as universidades estaduais e municipais no Sistema Nacional de Formação do Magistério. Porém é o governo federal que mantém a maior parte das universidades públicas do país. E essa é uma contradição inaceitável que pretendemos alterar com a nova orientação para a Capes e uma alteração na LDB - que já foi aprovada na Câmara e no Senado e está de volta à Câmara para o aval final. A formação do Magistério deve ser feita em regime de colaboração entre União, estados e municípios, numa dinâmica em que o governo federal tenha tanto peso quanto os outros dois.

Em muitos casos, a formação continuada está funcionando para tapar os buracos da formação inicial. Qual deveria ser o foco? HADDAD Para o MEC, o mais importante hoje é assegurar um bom desempenho dos estudantes em Matemática e em Língua Portuguesa. Como a Prova Brasil é focada nessas duas disciplinas, temos o Pró-letramento e o Gestar (Programa de Gestão da Aprendizagem Escolar), que foram moldados tendo como base os mesmos parâmetros da prova. Mas já estamos encomendando para as universidades ações em outras áreas do conhecimento, como Ciências, História etc.

Como fazer para que a sociedade valorize mais o trabalho dos professores e veja a escola, de fato, como o lugar capaz de transformar o país? HADDAD Eu acredito que a Educação vai virar um valor social quando mais gente - não importa a área de atuação, empresário, sindicalista, intelectual - perceber que é preciso melhorar a qualidade do ensino e que esse engajamento tem impacto sobretudo na vida das famílias mais humildes. Hoje, as pesquisas realizadas com pais de alunos de escolas públicas mostram que eles estão satisfeitos com a qualidade. Precisamos conscientizá-los de que ainda há muito a avançar. Infelizmente, essa é a realidade do país, mas devemos continuar lutando para fazer com que a Educação assuma esse papel fundamental que tem para mudar a realidade da população.

É possível atrair os jovens mais brilhantes para a carreira docente?
HADDAD Não apenas possível como também necessário. Mas isso passa por essa conscientização da sociedade. Na minha opinião, o piso salarial nacional é um passo nessa direção - um ponto de partida nada desprezível. Eu estou convencido de que até os estados mais pobres vão conseguir honrar o piso e também o artigo da lei que prevê um terço da jornada de trabalho docente para atividades extraclasse. Esse é um primeiro passo, que vai sinalizar para a juventude que a carreira do Magistério é distinta das demais por ser a única que tem um salário inicial previsto na Constituição. Falta, porém, olhar para a frente, apontar um horizonte. O jovem precisa entrar na carreira e saber aonde pode chegar. Por isso, estados, municípios e União devem entender que é preciso normatizar, em lei, a progressão na carreira. Só assim os professores poderão vislumbrar seu futuro e fazer disso um elemento motivador de sua prática. O terceiro ponto é, sem dúvida, a formação desse pessoal.

http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-inicial/formacao-docente-prioridade-ministerio-423221.shtml







Antônio Gois recebe Magda Soares para falar sobre alfabetização no programa ‘Entrevista’


Você sabe o que é o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa? A iniciativa do Governo Federal busca reverter os números que evidenciam o atraso da educação brasileira: 15,2% das crianças chegam aos oito anos de idade sem estarem alfabetizadas, enquanto 10% dos adultos são analfabetos.
Ao adotar a medida, o Governo e o MEC pretendem preparar os professores e as escolas para ensinar crianças recém-chegadas ao ensino fundamental a ler, escrever e compreender os princípios básicos de Português e Matemática. Essas crianças, no entanto, trazem para a sala de aula os conhecimentos adquiridos na pré-escola ou com os pais. Dessa forma, aquelas que vieram de famílias mais ricas e mais escolarizadas já chegam com um repertório maior do que as demais.
Cabe à escola preencher estas lacunas. Mas será que as salas de aula estão prontas para isso? Para analisar a influência da educação infantil e da atuação da família no êxito do processo de alfabetização, o programa Entrevista desta quarta-feira (04), às 21h, recebe Magda Soares, educadora da Universidade Federal de Minas Gerais e especialista no assunto. “Toda criança, em qualquer contexto, tem o direito de aprender a ler e escrever. O que pode variar é o método usado”, afirma Magda.



O programa governamental promete apoiar as escolas públicas em diferentes necessidades, como a formação continuada de professores alfabetizadores, cursos presenciais e bolsas de estudos, além de distribuir gratuitamente materiais didáticos e pedagógicos específicos para alfabetização, obras literárias e jogos. Mas o que caracteriza, de fato, uma criança plenamente alfabetizada?
Para Magda, mais do que associar palavras a sons, a criança alfabetizada precisa ler, interpretar e compreender um texto com o nível de complexidade adequado à sua idade, além de conseguir escrever com a mesma fluência.
Confira a entrevista com a educadora no site abaixo:

http://www.futura.org.br/blog/2013/09/04/antonio-gois-recebe-magda-soares-para-falar-sobre-alfabetizacao-no-programa-entrevista/











Entrevista Magda Soares a Sergio Brandão

https://www.youtube.com/watch?v=zG1MqQ-uSZk 





Educação para o século 21

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FORMAÇÃO



Educação de qualidade para os jovens é nosso maior desafio, afirma Mozart Neves

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Mozart Neves (Créditos: Renata Victor)

Por Daniela Arai

Em entrevista ao Educa21, o ex-secretário de educação de Pernambuco e atual membro do Conselho Nacional de Educação abordou as dificuldades da formação de professores e defendeu o foco na educação para os jovens como principal desafio da agenda pós-2015.



Educa21 – O que é uma educação de qualidade para o século 21?

Ainda temos uma escola do século 19, professor do século 20 e alunos do século 21. Enquanto não alinharmos os tempos desses três atores – escola, professor e aluno – não teremos uma educação do século 21. A forma de aprender da juventude não é mais condizente com a forma de aprender da minha geração. E não estamos falando somente de duas gerações distintas do ponto de vista temporal. Entre essas gerações distintas existiram várias mudanças estruturais que provocaram alterações, por exemplo, na forma da sociedade se desenvolver e se comunicar. Nós passamos por várias gerações em um intervalo de tempo muito curto. A educação tem que ser dinâmica para atender à dinâmica desses movimentos estruturais.



Como se formam professores para essa educação?

Hoje, no Brasil, há um enorme distanciamento entre o curso de pedagogia e as áreas específicas, que formam físicos, matemáticos, geógrafos etc. Há dois mundos incomunicáveis e quem perde com isso é o futuro professor. Em primeiro lugar, é necessário quebrar esse muro e criar um ambiente de maior identidade entre quem tem a pedagogia e quem tem a capacidade de dar a formação específica. É preciso criar nas universidades um centro de formação de professores que receba também os professores da educação básica, que não têm hoje nenhuma ponte orgânica com os seus formadores. Em segundo lugar, o currículo da formação deve mudar. A universidade ainda mantém um currículo de formação que é um bacharelado com algumas disciplinas pedagógicas, um híbrido mal estruturado com um estágio muito mal conduzido. Em terceiro lugar, temos que olhar para o ensino médio. Hoje, no Brasil, quem quer ser professor? Ninguém. Em geral, só aqueles que não conseguem entrar em outras áreas e veem nas licenciaturas uma ponte para oportunidades que são tudo menos a escola. Então temos que cativar o aluno para ser professor já no ensino médio e acompanhar esses futuros licenciandos desde o início. Para isso, estamos propondo a criação de um cluster de desenvolvimento e formação para o ensino. Assim, cria-se uma ponte orgânica com a universidade e se oferece não quatro anos de formação, mas sete anos – do ensino médio até a residência docente. É uma repaginação completa na formação atual. Ou o país tem coragem de fazer isso, ou não vamos conseguir sair da estagnação que atinge o ensino médio desde 1995.



Estamos a caminho de cumprir a segunda meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ONU) e universalizar o acesso ao ensino fundamental até 2015. No entanto, desafios importantes ainda precisam ser enfrentados. Quais devem ser as prioridades em educação para a agenda de desenvolvimento global pós-2015?

Aprendizagem para o mundo juvenil. Acho que já aprendemos bastante sobre a escola da criança, o que não aprendemos é como deve ser a escola para o jovem. Os índices de aprendizagem em português e matemática nos anos iniciais no Brasil vêm cumprindo as metas do Todos pela Educação, que são mais rígidas que as metas do Ideb. Mas quando nos voltamos volta para o ensino médio, encontramos a catástrofe, e isso é assim no mundo todo. Devemos focar nossa atenção na educação para o mundo juvenil, em metas que levam à aprendizagem, em um currículo atraente, em uma formação adequada e em uma escola que dialogue com o jovem.



Quem é Mozart Neves? Doutor em Química pela Universidade Estadual de Campinas e professor da Universidade Federal de Pernambuco. Foi Reitor da Universidade Federal de Pernambuco, Secretário de Educação de Pernambuco e Presidente Executivo do Todos Pela Educação. É atualmente membro do Conselho Nacional de Educação e Diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna.



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TÍCIAS


Cortella: ‘A escola passou a ser vista como um espaço de salvação’

20 de Maio de 2014
Por O Estado de S. Paulo
 As expectativas das famílias em relação às escolas e o que elas oferecem - ou são, de fato, capazes de ofertar - está em descompasso. De um lado, há adultos cada vez menos presentes, seja pelo excesso de trabalho, pelos longos deslocamentos nas megalópoles ou até pela falta de paciência, que esperam que a escola ensine o conteúdo obrigatório e eduque os seus filhos. Do outro, as instituições se desdobram para dar conta de uma infinidade de disciplinas regulares e ainda são cobradas a disciplinar os alunos e abordar temas considerados pertinentes. Tudo em quatro horas diárias.
 
As críticas são feitas pelo professor, educador e filósofo Mario Sergio Cortella, que lança nesta semana o livro Educação, Escola e Docência - Novos Tempos, Novas Atitudes. "As famílias estão confundindo escolarização com educação. É preciso lembrar que a escolarização é apenas uma parte da educação. Educar é tarefa da família. Muitas vezes, o casal não consegue, com o tempo que dispõe, formar seus filhos e passa a tarefa ao professor, responsável por 35, 40 alunos."
 
Cortella, que há 16 anos não escreve livros na área educacional, fará dois lançamentos de Educação, Escola e Docência, ambos seguidos de palestras. O primeiro será para docentes, no dia 22, na feira Educar/Educador 2014, no Centro de Exposições Imigrantes. O segundo, para o público em geral, ocorrerá em 10 de junho, no Teatro Tuca, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
 
A seguir, Cortella fala sobre a necessidade de uma parceria entre escolas e famílias, o impacto da tecnologia e como tornar as aulas mais atraentes.
 
O senhor fala em métodos de ensino do século 19, docentes do século 20 e alunos do século 21. É possível resolver o descompasso?
 
A escola tem de ficar em estado de prontidão para acompanhar uma parcela das mudanças, que acontecem de forma extremamente veloz. Isso porque nem tudo o que vem do passado tem de ser levado adiante. A escola precisa distinguir o que vem do passado e deve ser protegido, ou seja, o que é tradicional, daquilo que precisa ser deixado para trás porque é arcaico. Autoridade docente, atenção ao conteúdo e formação de personalidade ética são valores tradicionais. A escola tem de estar atenta às mudanças tecnológicas, mas não se submeter a elas. Vou dar um exemplo. Imagine se em 2004, quando foi criado o Orkut, uma escola criasse um projeto pedagógico baseado nessa rede social. Como um projeto pedagógico demora 10, 12 anos para ser aplicado na sequência de seriação, hoje ele já estaria obsoleto. Já pensou se quando o pen drive foi lançado outra escola tivesse decidido que todos os alunos deveriam organizar seus materiais nesse formato, que, chegou-se a dizer, substituiria a mochila? Hoje, nenhum jovem usa pen drive: eles guardam tudo em nuvens. Portanto, o que digo é que a escola tem de ficar atenta ao novo, mas não ser refém.
 
Cada vez mais a aprendizagem ocorre fora do espaço escolar. O que é preciso fazer para conquistar o aluno quando tudo fora da escola parece mais interessante?
 
Vou te dizer uma coisa que parece óbvia: Ninguém deixa de se interessar por aquilo que interessa. Nós temos de saber o que interessa ao aluno para, a partir daí, chegar ao que é necessário. É preciso conhecer o universo circunstancial dos alunos: as músicas que eles estão ouvindo, o que estão assistindo de programas e vendo de desenho animado, para chegar à seleção do conteúdo científico necessário. Temos de partir do universo vivencial que o aluno carrega para chegar até aquilo que de fato é necessário acumular como cultura produzida pela humanidade. Hoje, a escola não pode ser extremamente abstrata, como no meu tempo. O conteúdo tem de ser conectado com o dia a dia.
 
O que as escolas precisam fazer para encantar as crianças?
 
É preciso incorporar o que elas já fazem. A geração anterior, de quem já tem mais de 30 anos, só se comunicava pelo telefone. Esta geração de crianças e jovens voltou a escrever - no Facebook, no Twitter, no WhatsApp, em blogs. A escola tem de aproveitar essa produção. Alguns até dirão que eles escrevem errado. Claro, todo mundo escreve errado antes de escrever certo. Podemos partir de uma escrita que não está no padrão para chegar à norma culta.
 
Conversando com pais e professores, a impressão é de que estão insatisfeitos. As famílias se queixam das escolas e as escolas, dos pais. O que acontece?
 
Antes de mais nada, não estamos diante do crime perfeito, em que só há vítimas. Temos autor também. E essa autoria é multifacetada. A escola foi soterrada nos últimos 30 anos com uma série de ocupações que ela não dá conta - e não dará. Em uma sociedade em que os adultos passaram a se ausentar da convivência com as crianças, seja por conta do excesso de trabalho, da distância nas megalópoles ou da falta de paciência para conviver com aqueles que têm menos idade, a escola ficou soterrada de tarefas. As famílias confundem escolarização com educação. É preciso lembrar que a escolarização é apenas uma parte da educação. Educar é tarefa da família. Muitas vezes, o casal não consegue, com o tempo de que dispõe, formar seus filhos e passa a tarefa ao professor, responsável por uma classe de 35 ou 40 alunos, tendo de lidar com educação artística, religiosa, ecológica, sexual, para o trânsito, contra a droga, português, matemática, história, biologia, língua estrangeira moderna, etc, etc, etc. A escola passou a ser vista como um espaço de salvação.
 
E como resolver a questão?
 
A família precisa retomar o seu papel, porque ter filho dá trabalho. Ou será que as pessoas não sabiam? Existe tempo, aplicação, reordenamento, partilha das tarefas. A escola não tem como dar conta de tudo o que dela hoje se requisita. Quando há um linchamento, querem que a escola fale sobre linchamento. O mesmo ocorre com briga em estádios, corrupção, etc. E nem adianta o pai ou a mãe dizer: "A gente paga, a gente quer o serviço". É preciso uma parceria entre a escola e as famílias. Uma ideia é manter, como algumas instituições fazem, uma escola de pais, com reuniões periódicas para ajudar as famílias na reflexão.

De que maneira a convivência reduzida das famílias com os filhos afeta a escola?
 
Nunca tivemos tanta agressividade dos alunos contra os docentes. Parte das crianças fica sozinha, come se quiser, vai de perua para a escola e quase não encontra adultos. Se é de classe média, o único adulto que ela encontra é a empregada, para quem ela dá ordem. Não há uma estrutura da disciplina. O primeiro adulto que ela encontra no dia é o professor, que pergunta cadê o uniforme, você fez a tarefa, guarde o celular. Claro que nessa hora a criança vem para cima. É uma geração que confunde desejos com direitos. É preciso uma educação que seja mais firme, mas isso exige tempo, e tempo é questão de prioridade.
 
 

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